A primeira dúvida a respeito deste blog partiu de um amigo, também professor, Francione Oliveira Carvalho. Suas considerações foram tão interessantes que resolvi postá-las aqui. Sem dúvida, conceitos amplos como ‘Cultura’ e ‘Arte’ sempre terão várias definições. Mas é justamente a discussão sobre essas definições que nos torna mais conscientes, mais ligados. Então, se liga:
“Cultura é tudo? Não tenho certeza. Seria interessante detalhar como compreende o conceito “cultura”, já que desde o seu aparecimento no século XVIII, a idéia moderna de cultura suscita constantes debates.
A palavra cultura tem origem latina e surge nos fins do século XIII para designar uma parcela de terra cultivada. No século XVI, ela deixa de significar um estado (da coisa cultivada), para tornar-se uma ação, ou seja, o fato de cultivar a terra. E somente a partir do meio do século XVI a palavra “cultura” começa a ser aplicada no sentido figurado, como uma faculdade a ser desenvolvida.
Ao longo do século XIX, com a criação da Sociologia e da Etnologia como disciplinas científicas, a reflexão sobre a cultura passa do sentido normativo para o descritivo. Os intelectuais se interessam não em dizer o que deve ser a cultura, mas de descrever o que ela é, tal como aparece nas sociedades humanas.
Apropriando-se da sua reflexão sobre o programa Big Brother, podemos perceber que ele tenta trabalhar a idéia de uma cultura plural, onde cada integrante representaria uma parcela das identidades culturais contemporâneas. Essa idéia de cultura pluralizada, inicia-se apenas no final do século XIX, quando o imperialismo inicia a divisão do globo terrestre (África e parte da Ásia) . Diferentemente do período da colonização (do Brasil, por exemplo), onde o diferente era “acultural”, começa-se a falar das culturas de diferentes nações e períodos, como representantes de códigos específicos.
Nesse sentido a cultura é vista como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo. Cultura como forma de expressão e tradução da realidade que se faz de forma simbólica, admitindo que os sentidos conferidos às palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais, se apresentam de forma cifrada, portanto, já possuindo um significado e uma apreciação de valor.
Você disse na nossa pequena conversa que pretende utilizar os textos postados para suscitar discussões acadêmicas. Portanto, teorizei um pouco para dizer que senti falta de uma base teórica no seu texto, isso ampliaria um pouco o alcance do que escreve e o tiraria daquele limbo de que “blog” serve apenas para dar pitacos sobre tudo... Ass: Francione Oliveira Carvalho.”
Sem dúvida, essas questões levantadas por Francione são essenciais, a começar pelo fato de que o conceito de ‘cultura’ é histórico. Como se vê, a afirmação “Cultura é tudo” deixa de lado o fato de que certas manifestações culturais são valorizadas, outras não. E por mais que tentemos ser ‘democráticos’ e dizer que aceitamos TUDO como um aspecto da nossa cultura, torcemos o nariz para certas coisas.
E você, leitor, que ‘valores’ coloca nas coisas, como se elas tivessem um preço? Já parou para pensar? O que aceita, e o que rejeita, e do que tem preconceito? Esse talvez seja o melhor caminho para perceber o que até hoje, por condicionamento, por exemplo, nunca considerou como importante. E talvez nem tenha notado...