terça-feira, 12 de julho de 2011

A Educação, de novo


O assunto não é novo. Eu já postei 2 vezes aqui, mostrando a minha indignação com a educação do Estado de São Paulo. Quer dizer, falei da minha experiência mesmo (veja aqui), de como a escola simplesmente não 'fechou turma', nada disse até o primeiro dia de aula, e depois tranferiram o pequeno para outra escola, sem me avisar nada.

Mas isso acontece por acaso? Assista ao vídeo e conclua por você mesmo. O fator determinante em tudo isso é o contexto social e político que envolve a educação, é claro. Não é novidade que os professores não têm estímulo nenhum. Atendendo o pedido da minha amiga Tatiana, divulgo esse vídeo aqui.

Proponho apenas que cada um de nós reaja de alguma forma, proteste,exija, enfim... faça alguma coisa. Já!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Saldão da FLIP






  Terminada a FLIP, qual é o saldo para a literatura, os autores e, principalmente,  os leitores? O saldo é positivo, embora não exista a possibilidade de uma súmula do que o encontro significou, pois os organizadores não apostam (nunca apostaram) na ideia de fazer com que o evento gire em torno de um único assunto. A FLIP não é um Fórum Social Mundial em que é preciso chegar a conclusão, posições e talvez um documento assinado por todos.
A FLIP nos oferece 3 tipos de pacotes com embalagens e conteúdos diversos. O primeiro é o ‘Pacote Pensamento’, que uma vez aberto pode trazer a ventania da polêmica, ou ao menos uma racionalização teórica, ensaística, sobre aspectos intelectualizáveis da literatura. Portanto, o pacote mais próximo do que seria um ‘debate’, como ideal a ser atingido. Neste caso estão Antonio Candido, Jose Miguel Wisnik, João Cezar de Castro Rocha, e outros, que falaram sobre Oswald de Andrade, ou Miguel Nicolelis e Luiz Felipe Pondé, que nos brindaram com a polêmica mais vibrante e provocativa da FLIP, sobre tecnologia e filosofia e religião. Neste último caso, não por acaso, muitos se retiraram antes do fim, protestando talvez contra o ateísmo declarado dos dois.
O segundo é o ‘Pacote Lançamento’. Obras recém-lançadas têm seus autores convidados para falar sobre elas. Nesse caso, o pensamento não é primordial, troca-se o vento da polêmica pela brisa dos procedimentos literários, das escolhas estéticas que quase nunca são justificadas, antes se diz que a obra é que impõe certas escolhas, ou que aqueles personagens tomaram rumo próprio, deixando o impotente autor à sua mercê.  Neste caso estão o húngaro Péter Esterházy e o francês Emmanuel Carrère, que explicaram como suas obras foram permeadas por fatos reais, até mesmo à sua revelia. Explico: depois de ter publicado uma obra fortemente autobiográfica, Esterházy descobriu que seu pai tinha sido um agente da polícia secreta comunista, e isso o levou a escrever rapidamente um segundo livro. Carrère tornou pública parte de sua vida pessoal e familiar, desagradando à sua mãe e sua namorada. Outros lançamentos, como o livro sobre Elizabeth Bishop, de Michael Sledge, e de brasileiros como Edney Silvestre, Marcelo Ferroni e Teixeira Coelho, foram apenas protocolares, pois os autores não conseguiram mostrar porque suas obras merecem ser lidas.
O terceiro é o ‘Pacote-Autor’, que traz, é claro, o autor como foco maior de interesse. O mais óbvio exemplo é João Ubaldo Ribeiro, que aproveitou para fazer revelações (por exemplo, Viva o Povo Brasileiro foi escrito principalmente para ser um livro grosso, e ele não gosta de Guimarães Rosa), e deixar que o público cultuasse (tietasse?) sua personna artística.
Outro autor que foi cultuado - até ser execrado - foi Claude Lanzmann , que veio falar de suas memórias, falou também do seu documentário sobre o Holocausto, mas ficou insistentemente brigando com o apresentador, e fez grande parte do público deixar o local.

O melhor então seria escolher um pacote que viesse com mais de um recheio. A abertura com Antonio Candido serviu para alimentar o debate, mas a própria figura do crítico foi muito cultuada, embora ele não seja escritor. Esse caso, em que o carisma do estudioso é grande o suficiente para levar o público a lotar a tenda dos autores, é uma exceção, sublinhe-se. É possível que a mesa com David Byrne talvez tenha sido bastante recheada, com um lançamento, um debate em torno do urbanismo sustentável, e também a sua presença, ele que já foi líder de uma banda de sucesso. Mas como eu não vi, nada digo.
Lamento apenas ter perdido o português valter hugo mãe (é com minúscula mesmo), pois ele emocionou a platéia, se tornou um dos mais comentados pelo público, e ofuscou completamente a argentina Pola Oloixarac (eta nominho!). Mas não dá tempo para tudo, juro.

Fica então um desafio para as próximas edições da FLIP: que a organização consiga achar um Autor (ou Autora) conhecido, que este possa falar de um Lançamento, e que provoque a plateia com seu Pensamento. Seria um incomparável Pacote Triplo, que não poderia deixar de satisfazer todos os gostos e atender a todas as expectativas. A relação custo/benefício seria irresistível. O desafio está lançado.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

RELIGARE



Se você tem alguma religião, deve saber que o sentido da palavra está originalmente no verbo latino Re-Ligare, ou seja ligar de novo. Mas ligar o quê? Ligar-se a Deus, à espiritualidade, à fonte primeira, de onde viemos e onde estávamos ligados.

Quer dizer, estávamos sim ligados a Deus no princípio de tudo, depois é que veio algum problema que gerou a desagradável separação. Por isso religião é re-ligar, re-compor, re-fazer esse vínculo que foi quebrado – infelizmente, é claro, por isso mesmo buscamos ansiosamente um contato com o divino, com uma força maior.

Eu acredito piamente nisso. Quero dizer, acredito que essa ligação possa ser refeita, sim, apesar de não saber em que momento exato ela foi quebrada. Aí você, uma pessoa cética, pode perguntar: mas Deus existe? Se juntarmos todas as pessoas que acreditam em uma religião, temos pelo menos 5 bilhões de crentes, ou de pessoas desejosas dessa ligação com o divino. E isso quer dizer: independentemente da religião, o ser humano procura essa conexão, e se não podemos comprovar a existência de Deus cientificamente, essa é, no mínimo, uma verdade humana, uma verdade para a maior parte das pessoas.

Eu vou além. Acredito que todo ser humano procura essa conexão, mesmo os não religiosos. Como assim? É que mesmo quem não segue uma religião procura formas alternativas de transcendência. Transcender = atravessar o limite da própria existência e existir em outro tempo, em outro lugar. Alguns querem a fama, outros querem deixar bens para a família, outros se preocupam simplesmente com a sua reputação. Mas não é contraditório? Por que deveríamos nos preocupar com o amanhã, ou com a opinião alheia, que não controlamos? Na minha opinião, essa é uma maneira de atravessar os limites do nosso corpo, e vamos admitir que nunca aceitamos muito bem esses limites! Imaginamos nós mesmos em um tempo futuro em que seremos muito importantes, seremos reconhecidos... você não imagina, nunca imaginou? Pois isso é desejo de transcendência, isso é, estar além do momento presente, e esse é apenas mais uma característica do ser humano, a de se projetar no tempo e no espaço, ou seja, a de ampliar sua existência para além do aqui-agora.

Imaginação. Sim, você pode reduzir tudo ao verbo Imaginar, e dizer que é natural que o homem imagine, o futuro, o passado, enfim, imaginar o que não pode existir agora. OK. A questão é a intensidade com que ele imagina e joga suas emoções para esse passado, ou muito mais para o futuro... Como se nós vivêssemos uma vida imaginária na maior parte do tempo, com uma dificuldade natural de viver o presente. Temos alegrias imaginárias e tristezas imaginárias. Mas conseguiríamos viver sem esses pensamentos? Tente e depois me diga.

E se o ser humano é de fato assim, posso apenas entender que essa é apenas uma das maneiras de buscar transcendência, de estar em muitos lugares ao mesmo tempo, de querer essa re-ligação com o divino, de sentir que temos um valor maior do que da simples existência física... sim, esse é o grande estopim de todas as religiões, a total incapacidade do homem de aceitar que seja SÓ FÍSICO e que tudo acaba no instante definitivo da morte. Custo a acreditar que mesmo a mais materialista das pessoas não pense na morte com alguma apreensão, não por causa da dor, mas por causa do VAZIO que pode se seguir depois...

Enfim, a religião é uma das bases do homem, e talvez eu tenha conseguido provar que ela é a base para TODOS os homens. Mas por que estou falando disso? Não sei, estou aqui na FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty, e pensamentos ligados à espiritualidade me assaltaram. Talvez porque esse ambiente, esse lugar sejam muito propícios para a tão desejada Re-Ligação Transcendental que pode acontecer de várias formas, sendo que uma das melhores (e tão antiga quanto qualquer religião) é a própria Arte.

Escreverei num próximo post sobre a FLIP em si mesma. Está deliciosa. Mesmo com o frio.