domingo, 21 de agosto de 2011

DILMA, A Faxineira

É faxina para cá, faxina para lá. Se Dilma não fizer a sua próxima campanha com a ‘vassourinha’, a famosa vassourinha de Jânio Quadros, ninguém mais fará.

Tudo começou com as denúncias contra Palocci. Este ministro que parece ter a vocação para colocar a si mesmo de escanteio enriqueceu escandalosamente, tinha um apartamento milionário em nome de um laranja e conseguiu derrubar todos os argumentos a seu favor, “tem um papel essencial no governo”, “sem ele, não tem articulação política” etc etc. Dilma não quis saber. Foi lá e vapt-vupt, o ministro foi varrido.

Depois o Ministério dos Transportes. Que estava na mão do PR. As denúncias foram se avolumando, e de repente vieram as notícias de uma faxina completa, os números aumentando,12, 13, 17, 19, 22 – contar os corruptos é uma tarefa inglória. E como fica a infra-estrutura do Brasil para a Copa? Ninguém sabe. Mas o filho do ministro Alfredo Nascimento continuou sendo investigado pelo aumento patrimonial de 86.500% em seis anos. Investimento bom esse, hein?

Depois vem a operação Voucher no Ministério do Turismo, dezenas são presos e algemados (mais exatamente 38). Uma gravação mostra o secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva Costa, orientando um empresário a montar uma ONG de fachada para fechar convênios com o governo, ou seja, uma lição de ‘como roubar o povo brasileiro’. O curioso é que Brasília se alvoroçou, não por causa das denúncias e dos altos nomes envolvidos, mas pelo uso de algemas. “Isso sim é inaceitável”. Mais surpreendente ainda, todos são soltos em seguida, como se a polícia não tivesse prova nenhuma para prendê-los. Notícia de hoje no UOL diz que o Ministério do Turismo gastou 352 milhões em cidades que não tem vocação turística. Prestou atenção no número?

Ah, tem também o Ministério da Agricultura. O ministro, por sinal, já caiu. Mas, se a gente vai ler a respeito, as informações são sempre as mesmas. Será que vale a pena?

Você provavelmente está apoiando tudo isso, afinal são ministros e políticos corruptos afastados, o mínimo que se poderia fazer com eles, não é? Vai lá com a vassoura, Dilma!

A questão é saber o que isso significa. O que significa em Brasília e no cenário político brasileiro. O primeiro político do PT a ser afastado do ministério dos transportes declarou que a faxina estava indo longe demais. A seguir, outros políticos deram o tom: Jacques Wagner, governador da Bahia, numa entrevista informal, disse que Lula era flexível, e Dilma era ‘dura’. Políticos do PT também reagiram contra as algemas no Turismo, e começaram a avaliar que se o governo Dilma ficasse carimbado como o ‘governo da faxina’, o governo de Lula seria, por contraposição, o ‘governo da corrupção’. O PR declarou que sairia da base de apoio ao governo.

Tudo isso é claro: os políticos não querem uma mudança profunda e verdadeira na política, e jamais aceitarão perder a chance de enriquecer. Não se espante se Dilma começar a ser rotulada como ‘não política’, ‘inflexível’, ‘intolerante’. O que quer dizer: deixem-nos roubar, por favor.

O mais grave é que, no mundo real, Dilma não poderia de fato tirar todos os corruptos do poder: as costuras de apoio político se romperiam, projetos não seriam aprovados – haveria de fato uma paralisia política. E somente ela seria responsabilizada. Não é à toa que Dilma, que pode ser dura mas não é boba, também protestou contra os abusos da polícia federal. Entre o fogo e a frigideira.

Só pelas notícias publicadas nos últimos meses, podemos calcular que mais de 1 bilhão de reais vazou no ralo da corrupção. Mas, por mais que seja arriscado, estamos vivendo uma oportunidade única: os casos estão aparecendo, e os políticos estão realmente caindo. Se não soubermos aproveitar essa chance, dando apoio a essa belíssima faxina, nunca mais conseguiremos fazer nada. E é fundamental lembrar que as leis do país não são suficientes para resolver isso.

Pois é. Ou nos conscientizamos agora, ou nunca. Participando de alguma forma, nos informando, mas sobretudo lembrando que sem uma mudança nas leis, ninguém pagará pelo crime de corrupção e muito menos devolverá o dinheiro. A eleição da primeira mulher presidente, afinal, não significou uma mudança no básico: na mentalidade dos políticos, e nas regras e leis existentes já algum tempo. Afinal, lembra-se... quem foi que aprovou essas leis?