terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Chame Ladrão, Chame Ladrão

Supersalários de magistrados no Rio variam de R$ 40 mil a R$ 150 mil.
Se você ficou espantado com a notícia, prepare-se: é pior, bem pior. Há casos de juízes que receberam mais de 400.000 reais em um único mês, e outro que ganhou 642.000,00. Acredite se puder.
Você que pensava que os POLÍTICOS eram os vilões da história deve parar para pensar (assim como eu). Quem são os bandidos verdadeiros? Me parece que o que está faltando no Brasil é mocinho. Existirão, em algum canto misterioso?
Eliana Calmon, do CNJ
E o pior é: tudo é oficial. Se quiser, ouça esse AUDIO em que o presidente do TJ-RJ tenta explicar o inexplicável. Diz ele que alguns juízes trabalham em duas comarcas e por isso ganham dobrado. Ah, é? Mas todo mundo não diz que os juízes têm um alto salário (24.000, no mínimo) porque trabalham pesadíssimo, se estafam etc etc? Como então podem trabalhar dobrado? No caso dos valores absurdamente altos, ele diz que estão recebendo férias atrasadas. Estranho. Afinal, todo mês de janeiro acontece um recesso nos tribunais.
Isso me fez lembrar a música de Chico Buarque, em que diz: "Chame ladrão, chame ladrão!" Claro" É mais negócio. Sairia mais barato. Não é à toa que em certos locais as pessoas vivem sob a proteção dos traficantes e dos donos do jogo do bicho. Estão erradas? Ou menos iludidas do que nós?
E eles falam em nome da JUSTIÇA. Imagine se fossem os responsáveis pela INJUSTIÇA.
A única vantagem de tudo isso é que a corregedora Eliana Calmon, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) está fazendo com que tudo venha à tona. Seus chefes mandaram ela calar a boca, mas ela continua falando. Mas, se você acha que isso vai ser suficiente, acorde! Tirar benefícios adquiridos de certas classes, no Brasil, é mais difícil do que rico passar pelo buraco da agulha. Eles jamais vão se dar por achados! Por mais que todo mundo os ache... (bem, você completa a frase). Talvez, só mesmo com uma passeata de um milhão de pessoas protestando.
E enquanto nada acontece, ouça a música Acorda Amor, do Chico. Para relaxar a tensão. Chame ladrão!!!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Eu Caí, e Você?

OK, eu não vi nenhum programa de televisão, mas a verdade é que, ao ver a imagem na Internet, acreditei.
E antes de saber porque uma mulher inventa uma gravidez absurda, deveríamos perguntar: por que estamos dispostos a acreditar em tudo?
Confesso, achei a barriga estranhíssima, mas não duvidei da veracidade. Olhando outras fotos, depois, a farsa se torna mais e mais evidente, um verdadeiro TAPA em nossa cara: te peguei, tontão! Essa era a intenção dela?
A explicação que encontrei foi: vivemos em um mundo tão consumista, tão 'publicitário', que as únicas verdades dignas de nota são aquelas que saem do normal, as aberrações, as crianças siamesas, navio de luxo naufragando, vereador transsexual, famosos se tratando de câncer, enfim. Em outras palavras, o jornalismo embarcou de vez na lógica do espetáculo, na necessidade da manchete chocante, como era o caso do Notícias Populares, que só divulgava sexo, violência ou crime. Se não tivesse sangue ou nudez, nada feito.
A Internet vai seguir de vez essa lógica? Aparentemente, já está acontecendo. Uma imagem absurdamente chocante, então, passa a ser uma necessidade. Da mesma forma que, na Publicidade, só o inusitado, o 'diferente', pode cumprir a função de chamar a atenção do consumidor. E como a competição é brava, dá-lhe absurdo, dá-lhe esquisitice, dá-lhe circo de horrores!
Acreditar, nesse universo, passa a ser a regra, pois digna de estranheza seria mesmo APENAS uma gravidez normal. Olha aí, já me safei! A culpa não foi minha, a culpa é deles! Mas pelo menos a luz amarela se acendeu. Um pouquinho de desconfiança nesse universo fantástico do jornalismo internético cairia muito bem...









 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ricas de Dar Dó

Finalmente assisti. Sim, o comentadíssimo Mulheres Ricas, da Band. Sem dúvida, um tiro certo na mesmice e na pasmaceira da televisão.
Até mesmo as críticas previsíveis de que elas são fúteis, consumistas, alienadas, parecem fazer parte do roteiro do programa. Ou será que a Band esperava elogios para a conduta das riquinhas? Hello! Se você já deu sua contribuição criticando ou ironizando o programa, aviso que fez exatamente o que eles esperavam, viu, espertinho/a?
Muita gente talvez acredite que tudo aquilo é real, e que elas merecem mesmo ser criticadas. Imagino apenas o prazer de quem bolou todo esse 'plano'. Eu vi e não me indignei nem um pouco com a gastança ou com a futilidade. Se me indignasse com isso, qual deveria então ser minha reação diante dos 100 milhões desviados por cada um dos ministros de Dilma? Hello!
A escolha foi acertada, e me surpreendeu. Ricas que têm histórias bem diferentes, uma é arquiteta outra joalheira, outra 'sem-terra' (!!!), outra socialite. Bem... E uma delas pilota carros de corrida. Convenhamos, não é o que se imaginava. Mas o acerto mesmo está no fato de que todas têm senso de humor.
Mesmo sem terem o 'timing' de comediantes, elas conseguem produzir comentários suficientemente engraçados para preencher o espaço da telinha. Ri mais do que riria com o CQC. Enquanto Val, a loira-boneca-estilizada, ironizava as frases 'Ai, que delícia', e "Ai, que absurdo', as marcas registradas de Narcisa, esta respondia no mesmo tom: "A Val, com esse seu 'Hello!', vai longe..."
E se você acha que as outros programas são superiores a esse, é só mudar de canal procurando. Ah, e faça um favor: me avise se encontrar.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Gordo ou Magro: Qual é a sua Aposta para 2012?

Você deve ter imaginado muita coisa para 2012. Vou fazer bons negócios e ganhar muito dinheiro, vou mudar de emprego, vou encontrar um grande amor... Esqueça! Não que isso seja totalmente impossível, claro, mas sejamos objetivos. Nada disso depende de você! Pode passar o ano inteiro tentando, e nenhuma dessas metas se realizar.
A única decisão, a verdadeira questão existencial que temos realmente à nossa frente é: ser Gordo ou Magro. O resto é conjuntural.
Existem, sim, pessoas que nunca vão deixar de ser gordas e outras que nunca vão engordar mais de 1kg. Mas grande maioria das pessoas tem opção, e de fato a maioria das pessoas que conheço já teve uma fase gorda e uma fase magra. Você é o Senhor da Sua Vida! Assuma as rédeas do destino. Decida-se.
Eu sempre estive mais ou menos no meio termo, por isso posso dizer: é uma opção. Se você não se importa, engorda, porque o metabolismo sempre diminui de intensidade. Se você quer se manter em forma, encorpa, ganha massa magra e agilidade.
 Aí você vai dizer que existe uma ditadura da magreza. Concordo. O melhor exemplo é a cantora Karen, dos Carpenters, que morreu aos 32 anos de tanto fazer dietas absurdas. Muita gente quer se libertar disso. Mas aí vem o Ronaldo, se aposenta e qual é a primeira coisa que ele faz? Engorda. O que me espantou não foi a barriga, para falar a verdade. Foi uma foto em que ele aparecia com os olhos empapuçados e mortiços, sem nenhuma vitalidade (não é a que está aí embaixo, mas dá uma ideia). Quer dizer que essa é a vantagem de não ser policiado pela balança? Credo.

Inspirado por um exemplo tão dramático, fiz minha escolha. Percebi que ao longo do último ano ganhei 'naturalmente' 3 kilos. Perdê-los passa a ser o grande desafio de 2012. Bem, eu os manterei informado. Mas nunca tive um 'tanquinho' e descobri que quem tem é por motivos genéticos. Sério. Pessoas que acumulam músculos e têm 0,8% de gordura, sem dieta nem nada. Mas não adianta ter raiva deles. Como eu disse, a maioria de nós, mortais, está no meio termo.
Então, já fez sua escolha? Vai perder ou ganhar peso? Corra, que o ano já está passando. Dependendo da sua escolha, ganhar dinheiro, mudar de emprego ou conqusitar um grande amor pode ser mais fácil.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O Mistério dos Sacos Amarelos

Você viu ou fui só eu?
Eles estão espalhados em todas as esquinas e calçadas. Sacos amarelos, cheios de uma aparente mistura de folhas e outros itens não identificáveis. Logo concluí: Só pode ser o Papai Noel que andou depositando os seus sacos que, para inovar, não são mais vermelhos. Papai Noel também é fashion. Quando chegar o Natal, pensei, ele vem e distribui os presentes.
Mas o Natal passou e nada! Os sacos continuam atulhando as calçadas. Bom, aí virou mistério mesmo. Me informaram que esses sacos são dos varredores de ruas. E por que o lixeiro não os levou? Aparentemente, porque são empresas diferentes, os varredores e os lixeiros. E os sacos continuam nas calçadas já há mais de dez dias. Seria apenas mais uma demonstração da incompetência administrativa da prefeitura de SP? Seria uma surpresa que o Kassab está preparando? Não sei.
Pelo menos na região que eu moro, Zona Oeste, eles continuam firme e fortes, se bem que alguns já tenham sido arrastados pela chuva... Alguma explicação deve haver para esse singular aparecimento. Afinal, não é todo dia que encontramos sacos amarelos pelo caminho. Quem sabe essa cor simboliza Ouro e um ano de prosperidade? E quem sabe não é justamente por isso que eles continuam não sendo retirados?
Façam suas apostas! A sorte está lançada. E um feliz 2012.

sábado, 24 de setembro de 2011

DALAI LAMA disse, eu ouvi!

Dalai Lama no Anhembi, 14/09/11
 Essa é uma ótima definição: Dalai Lama é provavelmente o líder espiritual mais importante do mundo. Sim, porque Bento XVI é visto muito mais como o chefe de uma organização, a Igreja Católica, do que como um líder espiritual. Alemão durão até alguns anos atrás na função de gerente geral do Vaticano, fica difícil para a maioria das pessoas, até católicos, imaginar que ele se revestiu de repente de uma verdadeira santidade, mesmo que sua imagem tenha sido suavizada.
O caso de Dalai Lama é diferente. Suas funções, os papéis que desempenhou na vida nunca foram antagônicos, tudo o que ele fez parece ter sido fruto de uma necessidade, tanto espiritual como existencial. A política sempre entrou nessa equação, porque ele representava o Tibete, um país oprimido e invadido pela China. Representava, assim, tanto a espiritualidade budista mais ‘pura’, como o anseio justo de liberdade. Houve uma época em que alguns filmes lançados contavam a sua história, como Kundun e Sete anos no Tibet.
Líder político do Tibete no exílio, Dalai Lama renunciou à essa função em março deste ano. Isso significa, em suas palavras, passar a responsabilidade para alguém a ser eleito. Aliás, um dos motivos para o fascínio em torno de sua figura é ter sido nomeado chefe de estado aos 15 anos, e eleito líder espiritual do Tibet – ‘dalai lama’ – aos 4!! Pessoas que o viram anos atrás e o vêem hoje acham que essa renúncia o deixou mais leve. Pode se ocupar apenas com espiritualidade, sem se preocupar com a política.
Mas se você pensa que ele esteve no Brasil na semana passada só para falar de meditação, está muito enganado. A postura e as palavras de Dalai Lama surpreendem pela simplicidade, por não tentar causar algum tipo de impacto. Suas palestras podem ser vistas em vídeo, e algo que me surpreendeu, por exemplo, foi sua afirmação de que não devemos abandonar nossa religião de origem, seja o catolicismo, ou judaísmo, ou outra qualquer, para abraçar o budismo. Talvez ele esteja propondo um sincretismo religioso, talvez seja uma precaução contra os ‘modismos’ místicos, mas o fato é que essas palavras transmitem despreendimento,  modéstia e equilíbrio.
E do que ele veio falar? Estive no Anhembi no último sábado (14) e, como mencionei, nada do que ele diz calmamente, sem muita ênfase, tem o poder de fazer caírem os queixos. Mas, ao mesmo tempo, parando para pensar, um líder espiritual nunca diria o que ele diz. Nenhum papa ou cardeal se arriscaria.
No primeiro momento, ele falou da globalização. Se você acha que ele falou mal, errou. É positivo que todos os países dependam uns dos outros, economicamente, disse ele. Assim, o senso de responsabilidade precisa ser muito maior (como estamos vendo na crise atual), em relação a qualquer medida dos governos. E talvez até a pressão de governos ‘de fora’ seja positiva para que o coletivo, ou seja, o interesse de todos ou da maioria, seja preservado. Questões ambientais também ultrapassam fronteiras de países, e no quesito ‘responsabilidade’ isso é positivo. Em outras palavras: hoje, é preciso ter uma consciência maior do que representamos para ‘o outro’; é preciso respeitar ‘o outro’, é preciso enxergar ‘o outro’. A única coisa que ele não disse foi ‘é preciso amar o próximo como a si mesmo’, mas até que essa afirmação cristã se encaixaria. O contexto sócio-político-moral, no entanto, é bem diferente.
E aí ele falou de diferenças sociais e de corrupção. As diferenças, claro, não são positivas, e a corrupção ele qualificou de ‘câncer’ que corrompe e adoece a sociedade. E então fez perguntas à grande plateia. Achávamos que no nosso país as diferenças sociais são grandes ou pequenas? Todos abriram os braços. E depois, achávamos que no nosso país e na nossa cidade havia pouca ou muita corrupção? Todos esticaram os braços até acertar a cara do vizinho. Recado dado! O mais engraçado é que Gilberto Kassab tinha aberto o evento e estava por ali. Ah, Dalaizinho, que bom é ter alguém de fora e de tão longe que entende tão bem o nosso dia-a-dia! E não tem medo de falar no assunto...
Ele aborda muitas questões. Condenou a violência e a guerra, mas explicou que a solução para esses problemas é “aprender a lidar com as emoções internas negativas”. Não aprofundou, mas é exatamente o que eu penso: longe de apenas criticar tanto países como pessoas que são ‘agressivos’, o que devemos fazer é perceber a agressividade e a violência que estão em nós. E pode ter certeza de que elas estão! A religião, disse ele, é uma forma de criar valores internos positivos, que podem combater os sentimentos negativos. (E agora digo eu: os sentimentos negativos podem ser combatidos, mas não negados; se tentamos reprimi-los, eles aparecem de forma disfarçada.)
E, embora tenha falado de religião, Dalai Lama lembrou que há muitas pessoas que não seguem nenhuma religião, mas nem por isso deixam de merecer respeito, porque os sentimentos de compaixão, e principalmente a ÉTICA e a MORAL podem (e devem) ser estimulados, mesmo em contextos não religiosos. E eu pensei, será que falar de ética no Brasil tem algum efeito prático? Estamos tão acostumados com absurdos éticos nas manchetes dos jornais que não sei não...
O que fazer com esse ‘mercado da espiritualidade’ que oferece soluções a torto e direito, com inúmeros mestres e guias fazendo suas propagandas? Ler livros, respondeu o lama, e se informar muito bem a respeito das linhas ou filosofias que nos interessam. Lembrou ainda que os inimigos que encontramos pela frente são aqueles que nos permitem aprender e exercitar os nossos valores internos, e exercitar a paciência. Na prática, significa: devemos aprender a ser tolerantes com os corruptos, por exemplo, mas isso não significa aceitar e se submeter a eles, porque alguma ação deve ser feita para combater esse mal. Ou, explicando de novo, de nada adianta odiá-los (OK, admito que os odeio, não sou tão espiritualizado assim...), porque só uma ação equilibrada e tolerante e vigilante poderá impedir que eles voltem a repetir esses atos.
Pena que não pude ver as outras palestras, mas acho que o recado foi dado. Vale ainda acrescentar que ele é muito bem humorado, faz brincadeiras com as pessoas que estão em volta no palco, situações das quais ele mesmo acha graça (em uma das palestras, ficou segurando o microfone para o tradutor falar), e no meio da palestra que eu vi deu um longo bocejo no momento em que estavam traduzindo suas palavras para o português. Ficou claro para todos que ele é um exemplo único de homem que nunca usa máscaras... 



domingo, 21 de agosto de 2011

DILMA, A Faxineira

É faxina para cá, faxina para lá. Se Dilma não fizer a sua próxima campanha com a ‘vassourinha’, a famosa vassourinha de Jânio Quadros, ninguém mais fará.

Tudo começou com as denúncias contra Palocci. Este ministro que parece ter a vocação para colocar a si mesmo de escanteio enriqueceu escandalosamente, tinha um apartamento milionário em nome de um laranja e conseguiu derrubar todos os argumentos a seu favor, “tem um papel essencial no governo”, “sem ele, não tem articulação política” etc etc. Dilma não quis saber. Foi lá e vapt-vupt, o ministro foi varrido.

Depois o Ministério dos Transportes. Que estava na mão do PR. As denúncias foram se avolumando, e de repente vieram as notícias de uma faxina completa, os números aumentando,12, 13, 17, 19, 22 – contar os corruptos é uma tarefa inglória. E como fica a infra-estrutura do Brasil para a Copa? Ninguém sabe. Mas o filho do ministro Alfredo Nascimento continuou sendo investigado pelo aumento patrimonial de 86.500% em seis anos. Investimento bom esse, hein?

Depois vem a operação Voucher no Ministério do Turismo, dezenas são presos e algemados (mais exatamente 38). Uma gravação mostra o secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva Costa, orientando um empresário a montar uma ONG de fachada para fechar convênios com o governo, ou seja, uma lição de ‘como roubar o povo brasileiro’. O curioso é que Brasília se alvoroçou, não por causa das denúncias e dos altos nomes envolvidos, mas pelo uso de algemas. “Isso sim é inaceitável”. Mais surpreendente ainda, todos são soltos em seguida, como se a polícia não tivesse prova nenhuma para prendê-los. Notícia de hoje no UOL diz que o Ministério do Turismo gastou 352 milhões em cidades que não tem vocação turística. Prestou atenção no número?

Ah, tem também o Ministério da Agricultura. O ministro, por sinal, já caiu. Mas, se a gente vai ler a respeito, as informações são sempre as mesmas. Será que vale a pena?

Você provavelmente está apoiando tudo isso, afinal são ministros e políticos corruptos afastados, o mínimo que se poderia fazer com eles, não é? Vai lá com a vassoura, Dilma!

A questão é saber o que isso significa. O que significa em Brasília e no cenário político brasileiro. O primeiro político do PT a ser afastado do ministério dos transportes declarou que a faxina estava indo longe demais. A seguir, outros políticos deram o tom: Jacques Wagner, governador da Bahia, numa entrevista informal, disse que Lula era flexível, e Dilma era ‘dura’. Políticos do PT também reagiram contra as algemas no Turismo, e começaram a avaliar que se o governo Dilma ficasse carimbado como o ‘governo da faxina’, o governo de Lula seria, por contraposição, o ‘governo da corrupção’. O PR declarou que sairia da base de apoio ao governo.

Tudo isso é claro: os políticos não querem uma mudança profunda e verdadeira na política, e jamais aceitarão perder a chance de enriquecer. Não se espante se Dilma começar a ser rotulada como ‘não política’, ‘inflexível’, ‘intolerante’. O que quer dizer: deixem-nos roubar, por favor.

O mais grave é que, no mundo real, Dilma não poderia de fato tirar todos os corruptos do poder: as costuras de apoio político se romperiam, projetos não seriam aprovados – haveria de fato uma paralisia política. E somente ela seria responsabilizada. Não é à toa que Dilma, que pode ser dura mas não é boba, também protestou contra os abusos da polícia federal. Entre o fogo e a frigideira.

Só pelas notícias publicadas nos últimos meses, podemos calcular que mais de 1 bilhão de reais vazou no ralo da corrupção. Mas, por mais que seja arriscado, estamos vivendo uma oportunidade única: os casos estão aparecendo, e os políticos estão realmente caindo. Se não soubermos aproveitar essa chance, dando apoio a essa belíssima faxina, nunca mais conseguiremos fazer nada. E é fundamental lembrar que as leis do país não são suficientes para resolver isso.

Pois é. Ou nos conscientizamos agora, ou nunca. Participando de alguma forma, nos informando, mas sobretudo lembrando que sem uma mudança nas leis, ninguém pagará pelo crime de corrupção e muito menos devolverá o dinheiro. A eleição da primeira mulher presidente, afinal, não significou uma mudança no básico: na mentalidade dos políticos, e nas regras e leis existentes já algum tempo. Afinal, lembra-se... quem foi que aprovou essas leis?

terça-feira, 12 de julho de 2011

A Educação, de novo


O assunto não é novo. Eu já postei 2 vezes aqui, mostrando a minha indignação com a educação do Estado de São Paulo. Quer dizer, falei da minha experiência mesmo (veja aqui), de como a escola simplesmente não 'fechou turma', nada disse até o primeiro dia de aula, e depois tranferiram o pequeno para outra escola, sem me avisar nada.

Mas isso acontece por acaso? Assista ao vídeo e conclua por você mesmo. O fator determinante em tudo isso é o contexto social e político que envolve a educação, é claro. Não é novidade que os professores não têm estímulo nenhum. Atendendo o pedido da minha amiga Tatiana, divulgo esse vídeo aqui.

Proponho apenas que cada um de nós reaja de alguma forma, proteste,exija, enfim... faça alguma coisa. Já!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Saldão da FLIP






  Terminada a FLIP, qual é o saldo para a literatura, os autores e, principalmente,  os leitores? O saldo é positivo, embora não exista a possibilidade de uma súmula do que o encontro significou, pois os organizadores não apostam (nunca apostaram) na ideia de fazer com que o evento gire em torno de um único assunto. A FLIP não é um Fórum Social Mundial em que é preciso chegar a conclusão, posições e talvez um documento assinado por todos.
A FLIP nos oferece 3 tipos de pacotes com embalagens e conteúdos diversos. O primeiro é o ‘Pacote Pensamento’, que uma vez aberto pode trazer a ventania da polêmica, ou ao menos uma racionalização teórica, ensaística, sobre aspectos intelectualizáveis da literatura. Portanto, o pacote mais próximo do que seria um ‘debate’, como ideal a ser atingido. Neste caso estão Antonio Candido, Jose Miguel Wisnik, João Cezar de Castro Rocha, e outros, que falaram sobre Oswald de Andrade, ou Miguel Nicolelis e Luiz Felipe Pondé, que nos brindaram com a polêmica mais vibrante e provocativa da FLIP, sobre tecnologia e filosofia e religião. Neste último caso, não por acaso, muitos se retiraram antes do fim, protestando talvez contra o ateísmo declarado dos dois.
O segundo é o ‘Pacote Lançamento’. Obras recém-lançadas têm seus autores convidados para falar sobre elas. Nesse caso, o pensamento não é primordial, troca-se o vento da polêmica pela brisa dos procedimentos literários, das escolhas estéticas que quase nunca são justificadas, antes se diz que a obra é que impõe certas escolhas, ou que aqueles personagens tomaram rumo próprio, deixando o impotente autor à sua mercê.  Neste caso estão o húngaro Péter Esterházy e o francês Emmanuel Carrère, que explicaram como suas obras foram permeadas por fatos reais, até mesmo à sua revelia. Explico: depois de ter publicado uma obra fortemente autobiográfica, Esterházy descobriu que seu pai tinha sido um agente da polícia secreta comunista, e isso o levou a escrever rapidamente um segundo livro. Carrère tornou pública parte de sua vida pessoal e familiar, desagradando à sua mãe e sua namorada. Outros lançamentos, como o livro sobre Elizabeth Bishop, de Michael Sledge, e de brasileiros como Edney Silvestre, Marcelo Ferroni e Teixeira Coelho, foram apenas protocolares, pois os autores não conseguiram mostrar porque suas obras merecem ser lidas.
O terceiro é o ‘Pacote-Autor’, que traz, é claro, o autor como foco maior de interesse. O mais óbvio exemplo é João Ubaldo Ribeiro, que aproveitou para fazer revelações (por exemplo, Viva o Povo Brasileiro foi escrito principalmente para ser um livro grosso, e ele não gosta de Guimarães Rosa), e deixar que o público cultuasse (tietasse?) sua personna artística.
Outro autor que foi cultuado - até ser execrado - foi Claude Lanzmann , que veio falar de suas memórias, falou também do seu documentário sobre o Holocausto, mas ficou insistentemente brigando com o apresentador, e fez grande parte do público deixar o local.

O melhor então seria escolher um pacote que viesse com mais de um recheio. A abertura com Antonio Candido serviu para alimentar o debate, mas a própria figura do crítico foi muito cultuada, embora ele não seja escritor. Esse caso, em que o carisma do estudioso é grande o suficiente para levar o público a lotar a tenda dos autores, é uma exceção, sublinhe-se. É possível que a mesa com David Byrne talvez tenha sido bastante recheada, com um lançamento, um debate em torno do urbanismo sustentável, e também a sua presença, ele que já foi líder de uma banda de sucesso. Mas como eu não vi, nada digo.
Lamento apenas ter perdido o português valter hugo mãe (é com minúscula mesmo), pois ele emocionou a platéia, se tornou um dos mais comentados pelo público, e ofuscou completamente a argentina Pola Oloixarac (eta nominho!). Mas não dá tempo para tudo, juro.

Fica então um desafio para as próximas edições da FLIP: que a organização consiga achar um Autor (ou Autora) conhecido, que este possa falar de um Lançamento, e que provoque a plateia com seu Pensamento. Seria um incomparável Pacote Triplo, que não poderia deixar de satisfazer todos os gostos e atender a todas as expectativas. A relação custo/benefício seria irresistível. O desafio está lançado.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

RELIGARE



Se você tem alguma religião, deve saber que o sentido da palavra está originalmente no verbo latino Re-Ligare, ou seja ligar de novo. Mas ligar o quê? Ligar-se a Deus, à espiritualidade, à fonte primeira, de onde viemos e onde estávamos ligados.

Quer dizer, estávamos sim ligados a Deus no princípio de tudo, depois é que veio algum problema que gerou a desagradável separação. Por isso religião é re-ligar, re-compor, re-fazer esse vínculo que foi quebrado – infelizmente, é claro, por isso mesmo buscamos ansiosamente um contato com o divino, com uma força maior.

Eu acredito piamente nisso. Quero dizer, acredito que essa ligação possa ser refeita, sim, apesar de não saber em que momento exato ela foi quebrada. Aí você, uma pessoa cética, pode perguntar: mas Deus existe? Se juntarmos todas as pessoas que acreditam em uma religião, temos pelo menos 5 bilhões de crentes, ou de pessoas desejosas dessa ligação com o divino. E isso quer dizer: independentemente da religião, o ser humano procura essa conexão, e se não podemos comprovar a existência de Deus cientificamente, essa é, no mínimo, uma verdade humana, uma verdade para a maior parte das pessoas.

Eu vou além. Acredito que todo ser humano procura essa conexão, mesmo os não religiosos. Como assim? É que mesmo quem não segue uma religião procura formas alternativas de transcendência. Transcender = atravessar o limite da própria existência e existir em outro tempo, em outro lugar. Alguns querem a fama, outros querem deixar bens para a família, outros se preocupam simplesmente com a sua reputação. Mas não é contraditório? Por que deveríamos nos preocupar com o amanhã, ou com a opinião alheia, que não controlamos? Na minha opinião, essa é uma maneira de atravessar os limites do nosso corpo, e vamos admitir que nunca aceitamos muito bem esses limites! Imaginamos nós mesmos em um tempo futuro em que seremos muito importantes, seremos reconhecidos... você não imagina, nunca imaginou? Pois isso é desejo de transcendência, isso é, estar além do momento presente, e esse é apenas mais uma característica do ser humano, a de se projetar no tempo e no espaço, ou seja, a de ampliar sua existência para além do aqui-agora.

Imaginação. Sim, você pode reduzir tudo ao verbo Imaginar, e dizer que é natural que o homem imagine, o futuro, o passado, enfim, imaginar o que não pode existir agora. OK. A questão é a intensidade com que ele imagina e joga suas emoções para esse passado, ou muito mais para o futuro... Como se nós vivêssemos uma vida imaginária na maior parte do tempo, com uma dificuldade natural de viver o presente. Temos alegrias imaginárias e tristezas imaginárias. Mas conseguiríamos viver sem esses pensamentos? Tente e depois me diga.

E se o ser humano é de fato assim, posso apenas entender que essa é apenas uma das maneiras de buscar transcendência, de estar em muitos lugares ao mesmo tempo, de querer essa re-ligação com o divino, de sentir que temos um valor maior do que da simples existência física... sim, esse é o grande estopim de todas as religiões, a total incapacidade do homem de aceitar que seja SÓ FÍSICO e que tudo acaba no instante definitivo da morte. Custo a acreditar que mesmo a mais materialista das pessoas não pense na morte com alguma apreensão, não por causa da dor, mas por causa do VAZIO que pode se seguir depois...

Enfim, a religião é uma das bases do homem, e talvez eu tenha conseguido provar que ela é a base para TODOS os homens. Mas por que estou falando disso? Não sei, estou aqui na FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty, e pensamentos ligados à espiritualidade me assaltaram. Talvez porque esse ambiente, esse lugar sejam muito propícios para a tão desejada Re-Ligação Transcendental que pode acontecer de várias formas, sendo que uma das melhores (e tão antiga quanto qualquer religião) é a própria Arte.

Escreverei num próximo post sobre a FLIP em si mesma. Está deliciosa. Mesmo com o frio.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Absurdo das Leis



Você deve ser um respeitador (ou respeitadora) das leis, como eu. Todos, afinal, concordamos que sem leis viveríamos no CAOS, sem a menor segurança na vida em sociedade. Só as leis podem nos proteger.

Um segundo pensamento, porém, nos mostra que as leis nem sempre são tão boas assim, e por isso mesmo há leis que ‘não pegam’. Foram aprovadas, mas ninguém respeita. A questão então passa a ser: por que foram aprovadas? Por que simplesmente existem? Há duas possibilidades. A primeira nos diz que os deputados legisladores foram simplesmente ineptos, escreveram algo fora da realidade, não houve a conscientização das pessoas, a lei não pegou. Outra é pensar que a lei só foi aprovada para dificultar as coisas – o que significa favorecer a burocracia e a corrupção que vem junto com ela. “Criam-se dificuldades para se vender facilidades”, diz a já famosa frase.

Como se vê, nenhuma das possibilidades é muito inspiradora. Uma manchete de hoje reforça essa impressão: “270 aves apreendidas pela PF podem ser sacrificadas em Manaus”. O comércio de animais silvestres é proibido, como sabemos. E por quê? Porque esses animais não deveriam viver em cativeiro, e as espécies devem ser preservadas em seu habitat natural. OK. Mas a mesma lei que faz apreender as aves determina que devem ser sacrificadas? Em outras palavras, ninguém pode fazer mal às aves, mas a polícia pode matá-las?

Essa é a lógica perversa que ronda o Estado e sua arbitrariedade. Leis são aparentemente defensáveis e bem intencionadas, mas os buracos aqui e ali tornam a sua aplicação uma piada de mau-gosto. Não é à toa que muitas pessoas conseguem ‘assaltar’ o Estado, ou seja, valem-se de buracos nas leis para conseguir vantagens absurdas. Empresas que não pagam o INSS dos empregados, por exemplo, já conseguiram vitórias contra o governo, ou seja, contra nós, e às vezes ainda conseguem empréstimos do BNDS. Em outras palavras, literalmente pagamos para ser explorados, e pagamos duas vezes.

E por que não soltar as aves? Porque não são nativas do Brasil, e não sobreviveriam, explica o delegado de Repressão a Crimes Contra o Meio-ambiente. Ou seja, as aves não poderiam morrer naturalmente, seria uma maldade sem par, então é melhor matá-las de uma vez. Mas não adianta, o círculo não fecha.

Esse episódio, para mim, apenas mostra o abismo que há entre as leis e a compreensão das leis pelo cidadão comum. E, por isso, não há a possibilidade de obedecê-las. E, por isso, o não-respeito às leis continua a ser uma regra no Brasil. Assim se vai perpetuando uma mentalidade em que a corrupção é corriqueira, quase natural, e o não cumprimento de prazos, contratos, acordos é apenas uma faceta da ‘nossa cultura’. O Estado está tão distante da esfera dos cidadãos comuns que eles julgam que podem até fazer aquilo mesmo que a lei proíbe. A Copa que vem chegando também parece um prato cheio para o desrespeito, os orçamentos estourados e, como vem mostrando a imprensa, nenhuma transparência. É esse o país que quer ser uma das cinco maiores economias mundiais?

Detalhe: o homem que trouxe as aves responderá “pelo crime de introdução no país de animais sem licença do Ibama, além de maus tratos contra animais”.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Brasil no Topo?















Pode ser coincidência, claro. Mas como no último post falei justamente sobre o Brasil e seu recente sucesso, ficou irresistível não comentar (ou melhor, replicar) a melhor notícia de hoje: O Risco dos EUA é maior do que o risco Brasil pela primeira vez na História.
Se você é jovem, talvez isso não seja muito claro, mas o risco Brasil (de aplicar o dinheiro aqui e não recebê-lo nunca mais) sempre foi 20 ou 40 vezes maior do que o americano. E de repente o americano ultrapassa o nosso. Alguém pode me beliscar, por favor?
Será que a maré virou mesmo? Será um prenúncio dos próximos anos? Bom, o principal agora é comemorar. Leia a notícia abaixo e vá festejar com os amigos. Um empurrão na auto-estima não faz mal a ninguém:
"Pela primeira vez na história, os investidores enxergam mais risco de calote dos Estados Unidos que do Brasil."
O Credit Default Swap (CDS) de um ano – instrumento de proteção contra o risco de um devedor não cumprir suas obrigações – do Brasil tem sido negociado abaixo do norte-americano.
“Ainda que circunstancial, trata-se de algo inédito na história ou mesmo um fato impensável que pudesse ocorrer em algum momento”, diz o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros.
No dia de ontem, o CDS do Brasil estava em 41,2 pontos-base, enquanto o norte-americano estava em 49,7 pontos.
“As dificuldades enfrentadas pela economia americana e as tensões no Congresso americano em relação ao teto para o endividamento que será atingido em julho geram incertezas nos mercados”, completou Octavio de Barros
(Guilherme Barros, portal IG)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

EIKE, "O Cara"

 Você já ouviu falar de Eike Batista? (pronuncia-se AIKE) Se não, deveria. Ele é provavelmente o melhor símbolo do Brasil de 2011.
Eike foi listado pela revista americana Forbes como o brasileiro mais rico e o 8º homem mais rico do mundo (todos os primeiros são homens).
Filho do antigo presidente da Vale do Rio Doce e ministro de Estado Eliezer Batista, ex-marido de Luma de Oliveira, só agora esse personagem parece ter encontrado luz própria. E que luz. Ele anuncia provocativamente que se tornará o homem mais rico do mundo, e por isso Carlos Slim e Warren Buffett, os primeiros, que se cuidem! E diz isso em entrevistas nas televisões abertas americanas, portanto para o mundo inteiro. Conseguirá?
Se você acha que sim, seria o caso de investir nas ações das empresas dele, pois quando ele se tornar o primeiro elas aumentarão muito de valor. Por isso mesmo se torna símbolo: será que ele, assim como o próprio Brasil, continuarão despontando no cenário econômico mundial como grandes sucessos? Nós, simples mortais, podemos não ter ideia, mas a resposta para a pergunta certamente afetará as nossas vidas.
O país que hoje parece atrasado e mal preparado para sediar a Copa de 14 e as Olimpíadas de 16 está no olho do furação, quer dizer, sob os olhos do mundo. Costumo dizer que nenhum país do mundo teve essa colher de chá, a de fazer esses dois eventos de importância planetária ‘em seguida’. Por isso mesmo a responsabilidade é maior. E o sucesso, ou fracasso, desses eventos também serão cruciais para a nossa História.

Uma nação moderna, competitiva, invejada pelas outras, tudo isso para quem passou muito dos vinte anos, como eu, parece conto da carochinha. O Brasil sempre foi o oposto. Contribuiu para a mudança, sem dúvida, o amado/odiado presidente Lula, chamado muitas vezes de ‘o político mais popular da face da Terra’. Isso lá fora. E também se  repetiu muito que "Brasil foi o último país a entrar na crise, e o primeiro a sair dela", em referência à crise de 2008. Quando vejo a nossa Educação Pública, duvido bastante do sucesso do Brasil, mas quando vejo os números de crescimento, investimento, e até de valorização do real, penso que o sucesso está na nossa porta.
E aí desponta EIKE. No ano 2000 ele se desfaz de suas minas de ouro no mundo afora e investe todo o seu dinheiro no Brasil. Seu 1 bilhão de dólares se transforma em 30 bilhões. Para quem pensa que isso é maracutaia com o governo ele explica que não tem nenhum contrato público. O que ele tem é a concessão de exploração de petróleo em certas áreas do Brasil (o que foi uma concorrência pública), poços que neste ano de 2011 começam a jorrar. Isso além de outras empresas. E como se explica a multiplicação do dinheiro? Simples. Ele abre o capital das empresas na Bolsa de Valores. Muita gente se interessa, as empresas recebem altos investimentos e multiplicam de valor. Por isso anuncia que pretende ‘listar’ as empresas nas bolsas de outros países, como Inglaterra, assim receberão ainda mais dinheiro.

Mas um cara tão falastrão não gera desconfiança? Sim. Mas esse jeito que ele tem, meio ingênuo, cheio de si, provocativo, é tipicamente brasileiro. Comparado com outras nacionalidades, o brasileiro fala mais do que deveria, e não se importa de fazer papel de bobo em certas rodas. Talvez por isso ele consiga a adesão de tanta gente. Fala muito do Brasil, diz que escolheu investir e viver aqui, faz investimentos sociais no Rio de Janeiro (nas UPPs), promove a limpeza da lagoa Rodrigo de Freitas, aparece em programas de TV (veja-os no Youtube, como eu), doa U$ 7 milhões para a Ong de Madonna, diz que não vale a pena ser rico se o entorno for pobre, e por aí afora. Expõe sua fragilidade humana, a começar por admitir a vaidade, seus arroubos juvenis, e por aparecer em uma entrevista por exemplo, com uma gravata que mais parece a gravata de um palhaço, de tão longa. Muito diferente de outros empresários que têm medo de seqüestro e ninguém conhece, vamos admitir. Com tanta exposição, fica mais fácil confiar – ou definitivamente não confiar – nele.
Ele está construindo um dos maiores portos do mundo no Rio de Janeiro, em São João da Barra, e já tem muitos contratos engatilhados com a China, inclusive para receber os super-navios Chinamax. São tantas empresas reunidas naquele local, todas interligadas, que a cidade passou a se chamar Eikelândia. Convenhamos, não é pouco. Como se falou muito nos últimos anos da precariedade e alto custo dos portos brasileiros, espero que esse empreendimento realmente dê certo. E talvez os outros portos possam seguir o exemplo. Se você acha que não tem nada a ver com isso, explico: os portos são parte dos altos custos dos produtos que nós consumimos. Eike é um empresário que aposta na eficiência e na competitividade.
Luma de Oliveira, a ex-mulher, até hoje o defende, com lágrimas. Será esse mais um motivo para confiar nele? Eu confio, e torço, mas não posso e nem quero convencer ninguém. Só digo que vale a pena acompanhar a trajetória desse singular personagem com atenção. Na minha opinião, seu futuro – sucesso ou fracasso – se confunde com o futuro do Brasil.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Defesa do Atirador

Agora eu vou ser linchado. Moralmente ou talvez até fisicamente. Mas como é um assunto que já esfriou, resta a esperança de que as pessoas consigam ver o caso à distância que o tempo permite. Estou falando do Atirador do Realengo.

Ao cometer seu ato insano, o Atirador se uniu a uma galeria de assassinos célebres: Suzane Richthofen, o casal Nardoni, o atirador do shopping em São Paulo (alguém se lembra?), e o agora ressuscitado Abominável Pimenta das Neves. As perguntas que tenho me feito, desde então, com certo incômodo, são as seguintes:

1. Deve ele ser colocado na mesma categoria dos outros assassinos?

2. E, já que foi enterrado como indigente, pois o corpo não foi reclamado por ninguém, merecia um enterro ‘normal’? Você pode responder?

 Sei que as pessoas, todas, devotam a esse estranho personagem desprezo e rejeição. Eu, no entanto, não consigo desprezá-lo como desprezo os outros assassinos citados. Um pouco de pena, um pouco de perplexidade, não sei, acho que dentro de sua loucura ele teve, ainda, lampejos de consciência e de dignidade. A covardia, sim, estava lá, como no caso dos outros assassinos, e a crueldade, mas ele não estava imbuído de um egoísmo atroz. Os outros queriam ter um ganho imediato, mesmo que esse ganho fosse apenas emocional, e não pareceram arrependidos. Para se ter uma ideia, o Abominável Pimenta das Neves, dias depois de assassinar a namorada e confessar o crime, ainda a acusava de ser aproveitadora, entre outras coisas. Estava movido por uma paixão. Isso é compreensível. Mas não compreendo como, depois de tanto tempo, ele ainda não consiga se distanciar do ato que cometeu, perceber o prejuízo causado a todos os envolvidos, e se arrepender. Não. A prova é o número de recursos apresentados, a recusa em pagar pelo crime. Mas finalmente ele foi para a cadeia. Espero que lá apodreça.

O caso de Suzanne Richthofen é pior, pois a mocinha, mesmo sendo obrigada a confessar o crime, continuou movendo céus e montanhas para ter direito à herança dos pais assassinados, esse o seu maior objetivo. Arrependimento? Nenhum. Os Nardoni são um caso à parte. Não se sabe se eles se defenderam com convicção por pensar nos filhos, mas durante todo o tempo foram capazes de dissimular muito bem, mostrando essa faceta tão desprezível do ser humano que é a falsidade.

Para quem tem raiva do atirador do Realengo eu poderia dizer o seguinte: a pior pena que existe no mundo é a execução – morte – do condenado. E seu ato já previa isso, tanto que ele deixou instruções para as cerimônias religiosas e o enterro. Ou seja, nesse caso, o castigo já estava previsto na ação assassina. Tudo foi planejado, divulgado na Internet, mostrando que seu objetivo maior era SER OUVIDO. Esse é o lado mais trágico e que me toca: o ato mostra que muitas vezes é difícil ser ouvido, ter nossa dor reconhecida pelos outros. Ele declarou que tudo foi por causa do bullying que sofreu. Será verdade, ou delírio de um desequilibrado?

Depois de uma tragédia, todos procuram o ‘culpado’. Volta-se a falar de um referendo para proibir o porte de armas, mas poucos parecem dispostos a se lembrar daquela época em que defenderam esse direito, e que o preço a pagar pelas armas é ter algum maluco que às vezes sai atirando. A culpa, enfim, é algo mais amplo, inerente à sociedade. E justamente pela falta de culpados, começaram a levar mais a sério o que o Atirador disse a respeito do bullying, tanto que muitas matérias sobre o tema foram publicadas desde então. Afinal, talvez ele tivesse alguma razão. Mas isso também é trágico. Ele alcançou seu objetivo (e talvez tenha sido o único assassino a ter alcançado), mostrando que para a sociedade pensar com seriedade em um problema é preciso um ato trágico de grandes proporções.

Entre tantas perplexidades, o cadáver ficou lá, esquecido. E se você desejou que ele fosse jogado num esgoto e devorado pelos urubus, devo dizer que o mesmo ódio estava presente naquele ato assassino, e que o ódio não seria capaz de curar o ódio. Não se trata de justificar, e nem mesmo de explicar. Trata-se de reconhecer um direito. E reconhecer que este caso envolve toda a sociedade em uma dimensão maior do que os outros. Jogar a culpa apenas no Atirador é cegueira. Isso me lembra a antiga peça grega Antígona. Como se sabe, ela foi condenada à morte por ter enterrado o irmão, considerado um ‘traidor’ e não merecedor dos rituais religiosos. 2.500 anos depois a mesma situação acontece. O traidor não merece enterro. Me chamou a atenção o fato de que ele tinha uma família adotiva, que nada fez. Ora, eles podiam estar com medo, mas quem acusaria alguém de tomar as providências legais para um enterro ‘normal’? Esse fato me chamou a atenção, porque nem mesmo a família estava disposta a cuidar do morto . Ou seja, a solidão – dor – do atirador, que não era ouvido, parece ter sido bem real...

O espectador que vê Antígona concorda, é claro, com sua atitude, e minha posição é a mesma. Não se pode negar o direito de ser enterrado a ninguém. Só para efeito de comparação, os outros assassinos tiveram o direito à plena defesa, e ainda terão o direito à sua vida, depois de algum tempo. Comparativamente, isso sim é muito mais injusto e revoltante. Guilherme de Pádua, por exemplo, deve estar por aí, levando uma vida relativamente normal. Se alguns monstros podem circular livremente, e até contar com a simpatia de outros, por que deveríamos negar sepultura aos mortos? Pois eu o enterro na minha consciência. Que descanse em paz.