segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Velho e Bom Talento

A novela começou e uma outra novela começou: a novela da queda de audiência.
A história se repete: o Ibope da atual novela “das 8” da Globo, Insensato Coração, se comparado ao da anterior, é menor. O Ibope de terça é menor que o de segunda, o de quarta é menor que o da terça e assim por diante. É uma descida sem fim que já dura anos.  O inferno é o limite.
Cá entre nós, acho compreensível: a trama é tão ousada que o público não a assimila. Vejam só: um casal se apaixona durante o seqüestro de um avião. Ele, o mocinho, assume o controle da nave e salva a todos. Ela, a mocinha, o beija. E tão forte é a paixão que ele (escândalo!) abandona a noiva às vésperas do casamento. E, mesmo assim, serão separados pelo vilão da história. Francamente, o público não está preparado para tanta inovação, tantos sentimentos intensos e contraditórios. É perfeitamente compreensível que prefiram assistir aos gays do Big Brother, que apenas ficam tomando banho de piscina e fazendo intrigas. Pelos menos, eles não abandonam a noiva no altar.
Sobra-nos então apostar no conhecido e bom talento de Natália do Valle. Ela se especializou em fazer mulheres elegantes, muito bem de vida, mas profundamente insatisfeitas. Seu olhar é tão distante, tão em-busca-de-algo-indefinível que não dá para tirar os olhos da tela. E o rosto continua tão belo quanto antes. Quem se lembra de Água Viva, de 1980? Ela podia muito bem interpretar a namorada dos ‘filhos’ marmanjos.
Destaque também para Débora Secco, por sua inegável veia cômica, Camila Pitanga, pelo equilíbrio da composição, e Ana Lúcia Torre, que faz a tia mexeriqueira. E todos esses são velhos papéis que elas já fizeram antes. Se não há desafio, há a possibilidade de aperfeiçoar e dar novas tonalidades ao que já era bom.
Quanto aos homens... vamos esperar para ver. E para não dizerem que tenho má vontade, a construção dos vilões da novela é notável. Não começam fazendo maldades. Vão aos poucos acumulando energias para convencer a si próprios e ao púbico de que não havia outro jeito. É, ao longo do tempo acabamos nos convencendo de que a ruindade é inevitável...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Tamanho é Documento?

Sou um admirador da Apple. Mas, ao contrário dos aficcionados por gadgets, não corro a comprar a última novidade, como o IPad, que deve ser ótimo. Ocorre que minhas poucas experiências com os IProducts  foram sempre positivas. Um simples IPod que tenho há alguns anos resolveu vários problemas ocupando muito menos espaço que seus antecessores.
Meu IPod Nano original é a 3ª geração. Uso-o há mais de 3 anos. E, acreditem se quiser, até hoje não deu nenhum problema, sendo usado diariamente. Um belo dia, e foi um dia triste, eu o perdi. Passei o dia procurando, quando recebi um aviso: estava com os seguranças da faculdade, fora encontrado junto ao portão. O pobrezinho havia caído quando abri a porta do carro, ficou lá o dia todo, foi amassado por carros que passaram por cima  ̶  e continua funcionando normalmente.
Os problemas resolvidos: por causa doCD player (com frente destacável), tive meu carro arrombado pelo menos seis vezes. Instalei um amplificador, que fica escondido, e conecto-o ao IPod. O som é ótimo, e nunca mais encontrei meu carro coberto de vidro quebrado. O aparelho anterior era um MP3 player – que pela sua dificuldade de manuseio nem poderia ser considerado um similar. O IPod também substituiu os desajeitados CD players ‘portáteis’ que usava para dar aulas de inglês. Basta levar duas caixinhas de som, e pronto. E vídeos podem ser baixados e assistidos em sua tela.
Acabo de ganhar um novo IPod Nano do meu amigo Robert. Que, comparado ao anterior, é uma versão em miniatura. Aí surge a questão: por que reduzir o que já era pequeno?
Há alguma coisa mal explicada na miniaturização dos eletrônicos. Não há dúvida de que o menor é mais prático, mais leve, mais barato. Mas suspeito que seja o status agregado que lhe dá valor. Tudo começou com os japoneses. Depois da segunda guerra, eles se especializaram na miniaturização de eletrônicos, e foi justamente aí que o Japão passou a ser a segunda potência do planeta. Os nipônicos se tornaram modelos a ser seguidos. E a verdade é que ainda estão na liderança desse movimento.
Hoje, isso tem o nome de Nanotecnologia. Trata-se de uma possibilidade já imaginada em 1956 pelo Nobel de Física Richard Feynman. Ele estimou que o limite das miniaturas seria o de componentes um pouco maiores do que um átomo.  E nanômetro é justamente a unidade de comprimento um milhão de vezes menor que o milímetro (o que é pouco maior que um átomo). Nanotecnologia tem a ver com tecnologias baseadas em componentes que têm entre 1 e 100 nanômetros. Ou seja, hoje já existem componentes, ou partes deles, do tamanho de alguns átomos.

Mas nada disso me convence que o último IPod é melhor do que os primeiros. OK, nos admiramos ao ver algo um pouco maior que uma moeda de 1 real conter 16 Gigabites de memória e ainda servir como uma pequena televisão. Além disso, tem rádio e funções inovadoras. A parte de trás tem um clipe que serve para prendê-lo a qualquer parte da roupa. Mas perdeu a ‘roda clicável’ que permitia o controle exclusivamente com o tato. Agora, não. É preciso olhar bem a sua tela multi-touch para ver onde clicar. E por isso apareceram botõezinhos de metal na parte superior. A miniaturização, como se vê, pode dificultar a manipulação de um objeto – o que num carro é perigoso. Mas alguém vai acreditar nisso? Acho que não. Logo nos tornaremos habitantes de Liliput e talvez um gigante nos devore.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

As Viúvas do Belas Artes

“O Belas-Artes vai fechar!”  O prognóstico foi recebido como sentença de morte de um parente próximo e querido. Mas, como eu não faço parte da família, fico quieto. Afinal, a qualidade de projeção das salas está aquém do desejável, portanto...
Concordei com Tony Góes, que não viu motivo para tanto drama. Mas mudei de opinião quando fui ao cinema. O público, em comoção, faz filas imensas que tomam a calçada. Lenços são necessários. A retrospectiva de “clássicos”, reunidos não se sabe com qual critério, tem sessões lotadas. Até O Encouraçado Potenkim, filme de 1925, lotou uma das maiores salas, a Cândido Portinari. E cópias mal conservadas são vistas com carinho e nostalgia. Muitos lembram quando os filmes foram lançados e o que significaram, tempos atrás.
É um fenômeno interessante. Ou ainda: instigante. Não são apenas os velhos freqüentadores que fizeram passeatas e abaixo-assinados e estão tentando tombar o cinema. Minha sobrinha Luiza, de 15 anos, quer ir ao Belas Artes, “porque vai fechar”. A tentativa do processo de tombamento, que acontecerá hoje mesmo, na Câmara Municipal, também gera dúvidas: é possível tombar, não o prédio em si, que poderia ser reformado, por exemplo, mas o serviço ali oferecido? Até onde eu saiba, não.
O que chama a atenção é que os espectadores de cinema, tão relegados à passividade, pois não interagem com os artistas como o público de teatro, tenham se transformado nos protagonistas desse enredo. Como em O Encouraçado Potenkim, não é o líder revolucionário, mas o povo que toma as rédeas e muda o curso da História. Nesse caso, uma história de amor. Pelo cinema. Sem dúvida, daria um filme.
P.S. Pelas últimas notícias, o processo de tombamento vai ser iniciado, sim. Só espero que o filme não vire novela.

domingo, 16 de janeiro de 2011

BBB 11

Mais um BBB? espantam-se os críticos. Normal. Na televisão existe espaço para tudo. Só acho que se o BBB chegou à 11ª edição, todos os que apostavam no desgaste da fórmula e anunciavam o seu fim, anos atrás, devem procurar rapidamente outro discurso para posar de inteligentes.
Ouvir que o BBB é um programa sem conteúdo me faz rir. E será que as novelas têm mais a oferecer? Elas têm ótimos artistas, ponto. Mas conteúdo... O esquema amor-impossível, separação-do-casal, casamento-com-a-pessoa-errada e reencontro-final, com alguns assassinatos no meio, de tão manjado, não convence nem as moscas que pousam sobre a televisão.
Acredito que a fórmula do BBB está menos desgastada que a das novelas e explico por quê. O BBB conseguiu ser uma fusão de gêneros televisivos. São eles: a própria novela, o programa de auditório, a gincana competitiva, as videocassetadas, além da interatividade que nenhum desses programas oferece, sem contar o direito à torcida, como no Brasileirão. E há outras razões:
Imprevisibilidade: digam o que disserem, no BBB não há um esquema previsível de intrigas e desfecho: tanto o Mocinho como o Bandido podem vencê-lo.
Tempo real: chamado de reality show, com justiça, pois a realidade pode invadir o programa a qualquer momento, como ocorreu na última semana, quando o mecanismo utilizado para a prova do líder falhou e a Globo interrompeu-a. Pedro Bial ironizou a situação, mas não conseguiu esconder o nervosismo. Chamou os comerciais, que não entraram, e completou com um patético: “Recebo ordens, assim como vocês”. E o que sente o espectador, diante das falhas da Globo? Suspeito que esse seja o maior divertimento.
Laboratório humano: no BBB há, até certo ponto, um autêntico laboratório de relações humanas, com destaque para novíssimos comportamentos e identidades sexuais. Quando é que, nas novelas, houve um transexual? Lembro-me que, há muito tempo, Maria Luísa Mendonça fez uma hermafrodita — o que foi tachado de mau-gosto. Agora, todos estão se perguntando como se comportará a transexual Ariadna, e, caso ela se envolva com um dos homens da casa, milhões de pontos de interrogação vão piscar em todo o Brasil. Laboratório tem a ver com experiência, que significa fazer o que não foi feito antes. No BBB, isso acontece sem os estereótipos ou o politicamente-correto da teledramaturgia.
O primeiro BBB, no entanto, não foi o BBB. Foi a Casa dos Artistas, do SBT, que atingiu recordes de audiência e mostrou que esse era o caminho das pedras. Mas pelos direitos autorais, o BBB ficou com a Globo, que pode até ter aprendido algumas coisas com a incursão do SBT. Lá, aperfeiçoaram uma técnica que Serguei Eisenstein descobrira muito tempo antes: qualquer cena filmada, por mais banal que seja, tem seu significado completamente alterado quando da inclusão de uma trilha sonora. Sem a música, não haveria romance, não haveria romantismo. A competente Laura Finnochiaro percebeu isso, e fez tão bem seu trabalho que até CDs com a trilha sonora do programa foram lançados.
                BBB tem, em suma, os ingredientes para mobilizar a atenção do público e provocar acaloradas discussões. É pouco?