É hoje! Ou melhor, amanhã. O Brasil ganha ou não ganha o Oscar?
Basta ter um filme com personagens brasileiros para começar a torcida. Mesmo a diretora sendo inglesa. Mas o personagem central é Vik Muniz, artista aclamado internacionalmente. Se depender de fama, reconhecimento, o filme tem chances, mesmo não sendo o mais cotado.
Na Idade Média, o grande sonho do homem era transformar chumbo em ouro. Hoje, transformar lixo em ouro já é uma realidade - para poucos. Vik Muniz conseguiu a proeza, tirando fotos dos catadores no aterro sanitário e compondo imagens com sucata. Mas basta ver o filme para entender que o verdadeiro tesouro não são as obras em si mesmas, mas o elemento humano que as compõe. O preço da venda dos quadros embute esse ‘custo social’, em uma época em que tanto a questão ecológica quanto a social têm um peso grande na consciência dos compradores.
O maior mérito do filme é esse: mostrar uma comunidade que se formou naquele local, contra todas as expectativas. As pessoas que a compõem têm em comum a postura altiva, orgulhosa mesmo, a despeito de todo o preconceito que sofrem por estarem ali, dividindo o espaço com urubus. As mulheres, por exemplo, insistem que preferem esse trabalho a enveredar pela prostituição. E a plena consciência de que estão ajudando o meio-ambiente com a reciclagem dignifica suas dificuldades. Em outras palavras: o ouro já estava ali, latente, apenas oculto pelos dejetos.
A luta é árdua. E o filme se transforma em uma história de superação – o que, por sinal, combina muito com Hollywood. A melhor cena é a do presidente da Associação dos Catadores, Tião, que vai a Londres acompanhar o leilão do ‘seu’ quadro (o mesmo do poster). O assombro em seus olhos diante dos incontáveis lances que vão tornando a obra cada vez mais cara é antológico. É o momento da transformação. Essa, aliás, é uma das dúvidas levantadas pelo filme: vale a pena tirar as pessoas de seu habitat, levá-las para Londres, deixá-las deslumbradas com um mundo rico e cheio de glamour? Tião disse que pretende ir à festa do Oscar de limusine (veja aqui), e sinceramente não tenho uma resposta.
O ponto fraco do filme é a insistência de Vik Muniz em se apresentar como pessoa pobre, que passou grandes dificuldades até chegar ao sucesso internacional. OK, isso poderia ser dito, mas há uma distância entre ele e os outros pobres do filme. Vik não pertence a essa comunidade, e um indivíduo nunca vai ter a força de um grupo. Além disso, o que passou, passou. Lamúrias sobre o passado não têm nem um décimo da força das imagens do lixão – até mesmo porque é duplamente através das imagens (dos personagens em seu cotidiano e dos quadros feitos a partir deles) que o filme se realiza.
Mas a gente torce. Basta dizer Brasil, a gente está torcendo.